Que todos sabem que a leitura auxilia no desenvolvimento cognitivo daspessoas, aumenta o vocabulário, ajuda no desenvolvimento do ser crítico todossabem, inclusive a classe pedagógica: os professores. Mas pôr em prática ohábito da leitura “são outros quinhentos”. Por que ler ainda enfrentaresistência? Por que a prática de comprar livros ainda é tida como um atosolitário ou visto como ato burguês? É exagero? Vamos refletir.
Pais matriculam seus filhos nas escolas por dois grandes motivos:porque é obrigatório e porque querem que seus filhos aprendam a ler e aescrever. O primeiro motivo nem iremos abordar neste texto, entretanto, osegundo motivo ou intenção paternal merece um olhar mais detalhado. O quesignifica aprender a ler e a escrever para os pais? Depende.
Temos aqui, novamente, duas alternativas em que uma não anula aoutra. Nas duas opiniões temos pais que almejam um futuro promissor a seusfilhos, porém, de um lado temos pais que desejam que seus filhos tenhammelhores oportunidade na vida, sendo assim , tanto a leitura, quanto a escrita,bem como a aprendizagem do calcular são apenas caminhos para uma maiorcompreensão do mundo, são pontes que permitirão que seus filhos aprendammuito mais do que decodificar letras e números, mas saibam ler o mundo.Desta forma, o ler ultrapassa ler livros didáticos, vai além, ler passa ser umaforma para alcançar um futuro promissor, além de ser um prazer. Faz parte deum aprender sorrindo. Mais ou menos isto. Portanto, ir a uma livraria e comprarlivros faz parte do pacote do aprender a ler e a escrever e do vislumbrar umfuturo colorido e de sucesso.
Em contrapartida, temos do outro lado, pais que têm por conceito queaprender a ler e a escrever (e calcular) é necessário apenas para um futurobem próximo, faz parte do ir ao armazém para comprar pão, leite, cigarro ecerveja. Na crise que enfrentamos, não podemos errar no troco! E isto basta. Éuma leitura de armazém. Neste caso, ir a uma livraria e comprar um livro estáfora de cogitação. Ler livros para quê?
Mas quando estas duas vertentes se cruzam, ou seja, se encontram naescola, há os conflitos. Surgem os dilemas dos professores que têm de umlado alunos que possuem duas visões da leitura e quando chega esta época doano em que escolas se programam para visitar a Feira do Livro (de POA) háum “baque”. Visitar, comprar, pra quê?
Desta forma, as escolas vão à feira e os livros ganham um período dealforria, pois neste evento, ganham seu espaço sem grandes conflitos. Podem
se exibir para todos. Ganham glamour. Os filhos dos pais que desejam umfuturo mais longínquo e do futuro mais ali adiante se divertem na feira. Ascores, as formas, os cheiros dos papéis são alucinógenos para um cérebrocarente de cultura literária. Todos se libertam e a festa acontece.
Porém, não se engane, é apenas por um período apenas. Por que tãologo este tempo termine, os filhos do futuro de boteco voltam para as suascasas, para seus pais com as suas verdades caseiras. Voltam com as mãos eas mentes vazias ou, no máximo, povoadas por livros de baixa qualidadeliterária e por corações sem recordações a serem guardadas. E, do outro lado,os outros filhos, mesmo com pouca grana, desbravam balaios e voltam paracasa com relíquias literárias, além de trazerem corações tomados por umasaudade que já se forma e recordações de palavras e papéis poéticos. Aindahá de chegar o tempo em que os filhos sem recordações consigam se permitira gostar e admirar a palavra escrita e seja ponte entre a feira e seus pais,conseguindo então, reverter esta situação, dando a carta de alforria definitivaaos livros!E viva a 62ª Feira do Livro de Porto Alegre